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Sobre a criação e eleições do DCE Fatec
O Diretório Central dos Estudantes das Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo (DCE Fatec), foi criado de modo autoritário e antidemocrático em Setembro de 2013, em assembleia geral realizada na Fatec Barueri (leia mais sobre, aqui e aqui). No início de novembro ocorrerão as primeiras eleições para a diretoria executiva do DCE.

Depois da lambança que fizeram na construção do DCE, o próximo passo será dominá-lo completamente. E logo em seguida, os próximos serão os C.A.s, D.A.s e Atléticas. Não sobrará pedra sobre pedra. A UJS está vindo com tudo pra cima das Fatecs em nome dos interesses partidários mais nefastos.

A chapa CONECTE-SE é filha legítima da UJS. Com seu discurso pronto, cheio de palavras bonitas e sotaque jovem, enganam muitos fatecanos de boa vontade e com desejo sincero de transformações, porém, ingênuos quanto às reais intenções da UJS. O fatecano de primeira viagem não percebe, por falta de experiência, que a CONECTE-SE veio para engessar, pelegar e burocratizar o natimorto movimento estudantil fatecano. É a cereja do bolo da UJS.

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Mas afinal, quem é UJS?
A UJS, para quem não sabe, é o braço jovem do PcdoB, e detém o controle da UNE, entidade que há muito tempo NÃO representa o movimento o estudantil. Recentemente a UNE/UJS apoiou o limite de somente 40% das meias-entradas em troca do monopólio lucrativo das emissões de carteirinhas estudantis. Ou seja, o estudante que quiser pagar meia-entrada, terá que adquirir a carteirinha da UNE.
A presidente da UNE, Virgínia Barros (“Vic”) chegou a dizer que essa negociata ampliou o espaço de participação do jovem e o colocou como “protagonista da política”.

UJS expulsa de universidades públicas
No comando da UNE desde 1991, as políticas estudantis da UJS são desastrosas. Por isso, foram expulsos com louvor das três universidades públicas paulistas, USP, Unicamp e Unesp, e também da UNIFESP. Inconformada, A UJS tenta agora, fincar suas garras no movimento estudantil fatecano. Suas táticas são as mesmas de sempre: compra de lideranças, promoção de festinhas, distribuição de cargos, financiamento de eventos esportivos, e por aí vai… Um dos figurões do partido, explicou no site vermelho.org.br como a UJS organiza seu movimento:

“Nossa forma de organização se dá com o uso da linguagem do jovem. Se fizéssemos só a assembleia não reuniríamos mais de 100 pessoas… As assembleias (acontecem) durante festas fechadas em casas noturnas, com DJ’s e outros atrativos. Num determinado momento, a música para, começam os discursos e as informações importantes são transmitidas”.

Outro dia, um militante da UJS soltou essa no grupo do DCE Fatec do Facebook:

“Fatecano é assim mesmo, POVO FESTEIRO QUE NÃO LEVA NADA A SÉRIO E É DA ZUEIRA!”.

Ou seja, os dirigentes da UJS têm verdadeiro desprezo pelo jovem brasileiro. Consideram-no um imbecil útil disposto a votar e ser liderado pela “vanguarda iluminada”.

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Mas o que a UJS quer?
A UJS, como já mencionado, detém o controle da União Nacional dos Estudantes (UNE), e compõem as bases de apoio dos governos federal e municipal, ao lado de partidos como o PMDB (do Sarney) e PP (do Maluf).

O consorcio UJS – PCdoB é abrigo de vários políticos notáveis, como o ex-ministro dos esportes e ex-presidente da UNE, Orlando Silva (demitido do ministério após envolvimento com corrupção) e o ex-ministro do meio ambiente, Aldo Rebelo (relator do novo código florestal, que facilita o desmatamento e garante a impunidade de fazendeiros que durante décadas desmataram suas terras de forma ilegal).

Políticos da extirpe de José Dirceu, condenado no Supremo por comandar o esquema do mensalão, também apoiam e incentivam as atividades da UJS.

Aldo Rebelo - militante do PCdoB, ex-ministro do meio ambiente e relator do código florestal. Reparem na camisa.

Aldo Rebelo – militante do PCdoB, ex-ministro do meio ambiente e relator do código florestal. Reparem na camisa.

Para garantir e perpetuar seu domínio sob a UNE (o que permite acesso às volumosas verbas do Governo Federal), a UJS precisa controlar o maior número possível de diretórios acadêmicos de Faculdades e Universidades pelo país afora.

Nesse sentido, o controle do DCE Fatec é estratégico, uma vez que somos mais de 65 mil alunos espalhados por todo estado de São Paulo. Porém, esse não é o único interesse da UJS pelas Fatecs.

No ano que vem (2014) haverá eleições para Presidência da República e Governo do Estado. E a expansão das Fatecs e Etecs é a principal vitrine do governo tucano para a educação pública.

Estando a UJS na oposição, ela pretende lançar “por dentro”, uma campanha de desconstrução da propaganda do governo estadual, o que a princípio, não é ruim. O ruim é saber que nessa disputa, o que menos importa são os interesses do fatecano. Para essa classe política e oportunista, o que vale são as verbas públicas e o controle da máquina estatal.

Primeira eleição do DCE Fatec
As primeiras eleições para a diretoria executiva do DCE ocorrerão dos dias 04/11 a 07/11, em todas as unidades das Fatecs. Foram inscritas duas chapas para o pleito. A chapa “CONECTE-SE”, filha da UJS, apresentou 392 membros durante o processo de inscrição, enquanto que a chapa “Outros Junhos Virão”, apresentou apenas 23.

Qual a razão desse desnível tão grande? Quem será o verdadeiro dono do poder político e econômico nessa história?

É preciso repudiar a presença da UJS nas Fatecs. Não será através de grupos políticos oportunistas que conquistaremos as transformações que as Fatecs tanto necessitam.

As manifestações de junho nos ensinaram que a luta pode ser organizada de outras maneiras, para além das instituições tradicionais. O mundo contemporâneo demanda novas formas de participação política, em redes, espontâneas e descentralizadas, ao mesmo tempo em que rejeita estruturas burocratizadas e verticais.

Em outras palavras, a questão que se coloca neste instante é a seguinte:

Vamos entregar a Fatec, repetindo os velhos erros da política nacional?

Desconectar é preciso.

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O grupo Independente Fatec-SP republica o excelente artigo postado no site Revista o Viés sobre o 52º Congresso da UNE, realizado em 2011. É impressionante como a história se repete. Esse texto serve de alerta a todos que acreditam que as fraudes e os desmandos ocorridos em torno da criação do DCE Fatec, foram uma exceção, um ponto fora da curva. Não são! A fraude, a mentira, a hipocrisia, a alienação, o golpe baixo, e a centralização autoritária são práticas sistemáticas e amplamente utilizadas pela UJS na manutenção do seu poder nas organizações estudantis.

DE QUE É FEITO UM CONGRESSO DA UNE?
Por João Victor Moura

“Nós precisamos tomar uma decisão: nós vamos ocupar a escola?”. Sim!, foi a resposta geral. E assim foi feito. Se aquela noite se mostrava movimentada para quem iria dançar ou beber na Praça Universitária, parecia que dali para frente ela também seria movimentada para quem ainda procurava onde dormir durante o 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes.

Foto de Tiago Miotto

Dias antes, centenas de estudantes já embarcavam em ônibus por todo o Brasil para participar do maior Congresso estudantil do país, entre os dias 14 e 17 de julho. Para muitos, Goiânia, sede do Congresso, era uma incógnita feita de duplas sertanejas e coronéis da terra. Para outros a incógnita seria o Congresso: o que poderia se esperar de um Congresso organizado pela UNE?

A UNE que ia às ruas lutar pelos estudantes e por toda a sociedade parece morta. Hoje a entidade parece entorpecida pelo governismo de Lula e Dilma, não sabendo aceitar muito bem as suas próprias contradições e se utilizando dos métodos mais sujos para que essas contradições permaneçam ignoradas pela maioria dos estudantes brasileiros.

Os mais saudosistas lembram de uma UNE diferente. Com participação ativa nas lutas contra a ditadura militar, pelas Diretas Já! e no Fora Collor!. Mas, a subida ao poder da UJS, União da Juventude Socialista, na entidade fez muita coisa mudar.

A União da Juventude Socialista pode ser vista como um dos braços de juventude do PCdoB e com um breve resgate histórico é possível perceber o que trouxe a UNE a ser o que é atualmente.

No início da década de 90 a UNE passava a ser dirigida pela UJS. Por muitos anos a entidade continuou contrária ao governo federal, naquela época de Collor, Itamar Franco e FHC. Com Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto em 2003 subiam também vários outros partidos e aliados, incluindo aí o PC do B. Desde então a UJS, e por consequência a UNE, está atrelada ao governo.

O Congresso da UNE, realizado de dois em dois anos, tem como finalidade definir as políticas que a entidade defenderá pelos próximos dois anos. Além disso, é eleita a nova direção da UNE – de forma proporcional, ou seja, uma direção formada por boa parte das correntes de pensamento, da situação e da oposição.

Infelizmente o Congresso não preza pela discussão aberta e plural entre correntes de pensamento divergentes. O espaço para discussão disponível é ínfimo e não seria exagero pensar que boa parte dos estudantes que foram ao Congresso voltou para casa sem nenhum ensinamento político de valor. O que teve espaço foi a reprodução de valores tão negativos para a política e para a sociedade brasileira: a omissão daqueles que detém o poder; as palavras de ordem vazias, sem fundamento político; a demagogia dos poderosos, que insistem em considerar que tudo vai bem e que aquilo que vai mal é apenas parte do processo; a hipocrisia daqueles que se dizem democráticos mas que ceifam todas as oportunidades da democracia e da voz do contraditório aparecerem.

A manutenção da UJS na presidência da UNE é parte de um processo um tanto obscuro. Para que o estudante vá como delegado e tenha poder de voto no Congresso ele precisa ter sido eleito na Universidade onde estuda. Esta forma de eleição teria um caráter de democratização da entidade, por promover eleições no plano mais próximo dos estudantes. No entanto, essa fórmula facilita também as fraudes nos processos eleitorais.

São várias as denúncias envolvendo as eleições de delegados para o Congresso. A denúncia de maior destaque dos últimos tempos aconteceu na PUC do Rio Grande do Sul. Um esquema, montado junto com o DCE da instituição, favoreceria a UJS, que tomaria para si, sem um processo transparente de eleição, todas as vagas de delegados da PUC. Em troca, a UJS, e por consequência a UNE, se manteria calada quanto ao processo de eleição para o DCE da PUC. Esse último criticado já há muito tempo por estudantes contrários à política da atual gestão.

Foto de Tiago Miotto

As denúncias ganharam força depois que um grupo de estudantes decidiu manter-se firme contra as medidas do DCE e da UJS, montando e permanecendo em acampamento dentro da Universidade. Assim como na PUC, a UJS mantém sua força em dezenas de universidades particulares, principalmente. O processo da PUC mostra como funciona a lógica do grupo majoritário dentro da UNE: concentrar forças na manutenção do poder dentro da entidade.

Em Goiânia as coisas não saíram muito do que indicava essa política rasteira praticada por grupos políticos ligados ao governo. Era nítida a vontade dos organizadores do Congresso em despolitizar ao máximo aquele espaço. Por um lado, diminuindo ao máximo os grupos de debate durante o Congresso. Por outro lado, dificultando sistematicamente a vida da chamada “Oposição de Esquerda”.

“Nós precisamos tomar uma decisão: nós vamos ocupar a escola?”. Sim!, foi a resposta geral.

Todo o primeiro dia de Congresso já havia ocorrido e centenas de estudantes ainda permaneciam sem alojamento para a noite que chegava. Foi quando a notícia de que o tão esperado alojamento tinha sido conseguido. A alegria durou pouco tempo, só até que outra notícia chegasse: aquele espaço já estaria reservado.

Era necessário tomar alguma providência. E a ocupação parecia a única forma de intervenção capaz de convencer a Direção da UNE de que o alojamento era questão urgente. A ocupação não ocorreu, mas a aglomeração em frente da Escola deu resultado. Depois de algumas horas, finalmente um alojamento seria fornecido. O caso é um bom exemplo do descaso dos organizadores com os grupos contrários à Direção da UNE.

O processo “democrático” defendido pela Direção mostrava-se um grande engodo. Nos dias seguintes nada parecia alterar essa visão. Até que, na tarde do penúltimo dia, ocorreu uma grande surpresa: a bancada da chamada “Frente de Oposição de Esquerda”, FOE, parecia inchada.

Notícias davam conta de que, no Congresso anterior, em 2009, a FOE era um grupo correspondente a 10% do Congresso. Já neste 52º Congresso ela aparecia tendo quase o dobro disso. Esse movimento mostrou nova vibração no Movimento Estudantil brasileiro. Um movimento verdadeiramente independente do governo, capaz de reconhecer suas qualidades sem deixar de fazer todas as críticas necessárias.

Este Movimento pareceu ser a única fonte de esperança dentro de um Congresso apático. Um movimento também com suas contradições, mas com qualidade suficiente para fazer o enfrentamento ao governo. Os dois últimos dias eram reservados à votação, e a força da UJS e suas adjacências governistas (grupos do PMDB, PT, PDT), com quase três quartos da Plenária, era imbatível. Tudo saiu conforme o planejado para o grupo majoritário que controla a UNE há duas décadas, mas o crescimento de uma bancada forte de Oposição de Esquerda na UNE trouxe esperança. De que é feito um Congresso da UNE? De apatia, mas também de boas perspectivas para um movimento estudantil que honre a história da União Nacional dos Estudantes.

Foto de Tiago Miotto

DE QUE É FEITO UM CONGRESSO DA UNE?, pelo viés de João Victor Moura