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No início deste ano, durante as férias de janeiro, formulei alguns questionamentos aos professores do Departamento de Tecnologia da Informação (DTI), da FATEC-SP, sobre o mercado de Tecnologia da Informação (T.I.) no Brasil.
Na época, havia tomado conhecimento de uma pesquisa, desenvolvida pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (BRASSCOM), sobre a realidade, nada agradável (bastante aterradora, eu diria) do mercado de T.I. brasileiro.
O chefe do DTI, o Prof.º Dr. Marcelo Duduchi Feitosa, foi muito solicito e respondeu prontamente todas as questões por mim levantadas.
Aproveitando que agora temos um blog, acho oportuno divulgar esse interessante debate.

TI_BRASIL
 

ALUNO FATECANO PERGUNTA:

Caros professores, nesta semana eu tomei conhecimento de uma pesquisa que me deixou preocupado. Acho que esse é um assunto muito importante, e sem dúvida, do nosso interesse. Gostaria que alguém comentasse.

A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (BRASSCOM) publicou recentemente um estudo sobre o mercado de T.I no Brasil. Os resultados são preocupantes… A média salarial de um analista de sistemas (a maior remuneração!!!) no Brasil é de R$ 2.862,00, sendo que em São Paulo fica em torno dos R$ 2.950,00. Um analista de suporte computacional (o pior remunerado) tem o rendimento de R$ 1.867,00 em São Paulo. Em outros estados a situação é ainda mais crítica!

Outro dado alarmante, diz respeito a relação entre a oferta de vagas nas instituições de ensino e o número de concluintes. Para se ter uma ideia, apenas em São Paulo, das 76.459 vagas ofertadas (média do triênio de 2007 à 2009) apenas 10.174 foram concluídas. Ou seja, temos uma evasão em massa de 87%! Será verdade que realmente falta mão de obra qualificada, que os profissionais de T.I recebem os maiores salários, que a carreira é excelente e etc.? Esse estudo demonstra que a realidade não é bem assim.

Percebo que as maiorias das empresas não desenvolvem ou criam novas tecnologias. Elas somente operam as tecnologias já existentes. Por exemplo, alguém que trabalha com segurança da informação, na prática ele vai apenas controlar acesso a diretórios, definir perfis de rede, bloquear pacotes através do firewall, bloquear sites com o Proxy e fazer varredura com antivírus. Ou seja, o profissional irá operar softwares prontos, que fazem todo o trabalho. Não é necessária muita qualificação para desempenhar essas atividades. Em outros segmentos do mercado a realidade é bastante parecida. Então, se montarmos uma equação, teremos: Profissão não regulamentada + baixa qualificação + sindicatos fracos = baixos salários e subempregos (terceirizações e regime PJ). Será essa é a realidade do setor? Segue anexo o resumo do estudo da BRASSCOM:

Aluno Fatecano.
Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) – Noite.

RESPOSTA DO PROFESSOR DR. MARCELO DUDUCHI FEITOSA:

Prezado Aluno Fatecano,

Pode se tranquilizar e curtir suas férias.Acho que existe um probleminha em sua análise. A tabela citada de salários não é a média de todos os salários e sim média de salários admissionais. Veja as informações divulgadas pela Info sobre salários da área no link abaixo:
Tabela de Salários de T.I. – Info

Para um curso como o nosso que é conceito máximo no ENADE até estagiários estão ganhando os valores indicados por você. Além disto, pode verificar nos gráficos que a demanda é sempre muito superior à oferta e por isso o mercado em nossa área tende a estar aquecido por muito tempo. A reportagem do Estadão em que nosso aluno saiu (link abaixo) em 2011 fala sobre 90 mil vagas em aberto e prevê carência de 200 mil em 2013:
Déficit de Profissionais de T.I. – Estadão

Para 2020 segundo a própria BRASSCOM a previsão é de falta de 750 mil profissionais na área.
Falta de Profissionais de T.I. para 2020 – BRASSCOM

Neste cenário não acredito existirem baixos salários.A qualidade do aluno formados e evasão que você citou realmente é preocupante e temos que combatê-la. Dos quase 250 cursos de ADS que participaram do ENADE só 15 tiveram conceito 5 (máximo) como nós. Além disto nós fomos o único curso de ADS a tirar conceito 5 com mais de 100 alunos. Os poucos IFs que tiraram conceito máximo como nós tinham em média 10 alunos participando da prova. Todos os outros com exceção da UFF (com 77 alunos) tinham menos de 30 participando.No nosso curso portanto não estou muito preocupado com isto, pois fizemos o último ENADE com 129 prováveis formandos! Além disto, mesmo tendo disciplinas optativas cujo conteúdo é efetivo no ENADE, o que estamos corrigindo, conseguimos obter conceito máximo! Certamente conseguiremos ainda melhores resultados no futuro!

Ao menos em nossa área, também não concordo que não se produza tecnologia de ponta. É certo que há muito a ser feito, mas a maioria de nossos alunos em final de curso está atuando em desenvolvimento e suporte a desenvolvimento de software. Temos empresas despontando em desenvolvimento tecnológico e competindo até lá fora. Além disto várias empresas não nacionais tem desenvolvido tecnologia em nosso país. É muito interessante ver a IBM inaugurando laboratórios de pesquisa no Brasil e contratando pesquisadores daqui para atuar nele em tecnologia de ponta como a profa. Marcia Ito aqui do nosso departamento por exemplo. Vale ressaltar que nossos alunos já estão sendo chamados para atuar lá também…Também não gosto muito de alguns itens considerados na sua equação como “profissão não regulamentada” e “sindicatos fracos”. O verdadeiro objetivo dos conselhos regionais que vem da regulamentação da profissão deveria ser proteger a sociedade dos maus profissionais e não gerar “reserva de mercado” para formados na área como tentam fazer hoje. Sabemos também que boa parte dos sindicatos por ai também não cuida de nada a não ser de seu próprio interesse funcionando como trampolim político.Prefiro dizer que a nossa realidade aqui na FATEC-SP ontem, hoje e no futuro tende a ser:

Alta qualificação especializada + Muita falta de profissionais em TI = Grandes oportunidade profissionais.
Curta suas férias despreocupado…Abraços a todos e bom resto de férias! Estarei curtindo as minhas e, por isto, estarei incomunicável por alguns dias.Saudações Universitárias!

Marcelo Duduchi.

 

Publicado no Facebook em 06/04/2013

A autarquia do Governo do Estado de São Paulo “responsável” pelo ensino técnico e tecnológico, Centro Paula Souza (CEETEPS), avaliou mal (para não dizer péssimo) e penalizou instituições consideradas ilhas de excelências pelo Ministério da Educação.

Unidades importantes das FATECs e ETECs ficaram de fora da folha de pagamento da bonificação por resultados 2013. Esse bônus tem por finalidade, premiar financeiramente os professores e funcionários das unidades que cumprem as metas estipuladas pelo Centro Paula Souza. No entanto, essas metas priorizam a QUANTIDADE em detrimento da QUALIDADE ¹. Esse sistema adota critérios que não dependem somente do funcionário, como evasão escolar e aprovação dos alunos. A conta é simples, quem aprova mais (mesmo que o aluno não tenha aprendido), recebe um bônus maior. Na prática, beneficiam-se os que entram no esquema da aprovação automática.

Essa política fica bem clara quando, por exemplo, comparamos os excelentes resultados obtidos pela FATEC-SP e ETESP no ENADE e ENEM respectivamente, com o mau desempenho das duas instituições na avaliação do Centro Paula Souza. Para se ter uma ideia, segundo dados do Ministério da Educação, a Fatec-SP teve três cursos (de seis avaliados) com desempenho 5 (a nota máxima) no ENADE. Os restantes obtiveram o desempenho 4 (estão no grupo de excelência do MEC). Quanto a ETESP, ela foi pela segunda vez consecutiva, a escola pública com o melhor resultado obtido no ENEM em todo o Estado de São Paulo! Ficou na 9º colocação entre os colégios públicos e privados da capital, na frente de escolas particulares tradicionais! Pois então, como o Centro Paula Souza conseguiu avaliar mal e penalizar essas duas instituições? Há uma incoerência muito grande nessa história… Será que os burocratas do CEETEPS possuem realmente boa fé e competência para avaliar o trabalho de alguém?

Enfim, reiteramos que somos contra a bonificação por resultados. Defendemos sim, melhorias salariais para os professores e funcionários das FATECs e ETECs. Inclusive, a total incorporação do valor do bônus aos salários. É necessário valorizar (e muito!) o trabalho dos profissionais da educação, e não estimular o profissional mercenário, preocupado mais com ganhos financeiros do que com o verdadeiro aprendizado.

¹ Vide boletim Independente Fatec-SP nº 3.  Alertamos vocês sobre esse problema há exatamente um ano.

Em tempo 1…

O caminho é a greve! Espelhem-se no exemplo dos servidores Federais. No ano passado (2012) eles paralisaram a rede inteira por quase 4 meses e obrigaram o Governo Federal a negociar… Se a greve tem riscos, a covardia tem custos. Afinal, quem não chora não mama!

Em tempo 2…

Para quem quiser saber mais a respeito da bonificação por resultados, sobre como ela gera corrupção no sistema e distorce o que deveria controlar, leiam a excelente entrevista do professor de educação da UNICAMP, Luis Carlos Freitas, publicada na revista Carta Capital em 02/05/2011: “A meritocracia e o ilusionismo”.